Informações da Diocese (01.07.12)
PRIMADO E
COLEGIALIDADE
D. Demétrio Valentini
A festa de São Pedro, neste final
de semana, enseja uma boa oportunidade para conferir a posição do Concílio
Vaticano II, neste ano do seu jubileu.
Uma das características deste
concílio é o fato de ele ter sido convocado sem um problema específico a
resolver. O Papa Pio XII tinha deixa a Igreja em perfeita ordem. A rigor, não
havia necessidade de um concílio.
Na verdade, a pronta acolhida da
ideia de um concílio, lançado por João XXIII, cedo mostrou quantos assuntos
podiam ser abordados com proveito, a nível de concílio.
Um assunto muito importante
estava pendente desde o Concílio Vaticano I, que foi interrompido e não pôde
ser concluído. Tratava-se de completar o ensinamento sobre o governo da Igreja.
O Vaticano I tinha definido bem a função do Papa, explicitando sua incumbência
de sinal de unidade e de garantia de fidelidade de toda a Igreja a Cristo.
Faltava falar da missão dos
Bispos, que com o Papa partilham suas responsabilidades para com toda a Igreja.
A missão do Papa é reconhecida,
de modo tradicional, como exercendo na Igreja o Primado, palavra que evoca a
missão eclesial dada por Cristo a Pedro, de cuidar de todo o rebanho.
A missão dos Bispos é expressa
pela “Colegialidade Episcopal”, expressão cunhada pela Igreja para indicar a
responsabilidade conjunta que Cristo confiou aos Doze Apóstolos.
Confirmando tudo o que o Vaticano
I tinha dito a respeito do Papa, reconhecendo, portanto, o Primado concedido a
Pedro, o Concílio se dedicou exaustivamente a propor com clareza a missão dos
Bispos, definindo a “Colegialidade Episcopal”
Atenta ao formato que Cristo deu ao
seu grupo de Apóstolos, o primeiro e fundamental “Colégio Episcopal”, a Igreja
faz questão de ressaltar sua continuidade, na mesma comunhão e na mesma missão.
A missão confiada aos Doze, comporta a comunhão e a igualdade entre eles, e ao
mesmo tempo a missão própria confiada a um deles, Pedro, a serviço da unidade e
da fidelidade de todos os outros.
Para a vida da Igreja são
indispensáveis tanto a dimensão de colegialidade, como a dimensão de primado.
Ambas estão a serviço da comunhão eclesial e da fidelidade a Cristo.
Quando se rompe o equilíbrio entre
Primado e Colegialidade, a Igreja fica exposta a rupturas, fáceis de irromper e
muito difíceis de serem depois superadas.
Em todo o caso, da reta visão da colegialidade
episcopal, e da visão da Igreja como Povo de Deus, derivam as grandes intuições
pastorais do Concilio Vaticano II, mostrando que o fato do Concílio ter sido
doutrinário, não invalidada sua importância pastoral. E dito de outro ponto de
vista, o fato deste Concílio ter sido “pastoral”, não invalida o conteúdo
“doutrinário” que ele ostenta.
Uma dessas grandes intuições pastorais
ressalta a importância das Igrejas Locais, como concretizações da Igreja nas
realidades onde ela se insere, na diversidade de raças e culturas.
Igualmente a importância das
comunidades eclesiais, onde o Evangelho pode ser vivido na prática da
convivência cotidiana e da inserção no mundo.
A Igreja da América Latina nunca
colocou em dúvida a importância do primado de Pedro, expresso pela figura do
Papa. Será que não estaria na hora de deixar mais espaço para o exercício da
colegialidade, inclusive para que a Igreja Católica da América Latina tenha
condições de ir ao encontro do povo que quer participar ativamente da vida da
Igreja, e nem sempre encontra o espaço adequado nas atuais estruturas da
Igreja?
De novo se percebe como a recepção
do Concílio não esgotou ainda sua potencialidade.