Informações da Diocese (05/08/12)
VÍNCULOS
ECLESIAIS
D.
Demétrio Valentini
Para a Diocese de Jales,
agosto é propício para cultivar sua identidade eclesial. No dia 15 celebra seu
aniversário, solenizado com a romaria ao redor do cruzeiro de fundação da
cidade, que já se tornou tradição de cada ano.
A recuperação de sua história,
permite situar a Diocese no contexto mais amplo da realidade eclesial do
Brasil. Aí nos deparamos com dados históricos muito interessantes, que ajudam
na compreensão do fenômeno religioso que as estatísticas se empenham em apontar
com números, nem sempre bem definidos no seu significado.
Cento e poucos anos atrás, o
Brasil todo só contava com uma dezena de dioceses. Agora já são 274. Um
crescimento espetacular, que precisa ser entendido no seu significado eclesial.
De fato, até a proclamação da
República, só havia em todo o país onze dioceses. E todo o povo era católico. Uma constatação
salta aos olhos: com uma estrutura tão precária, a Igreja Católica conseguiu a
proeza de transmitir a fé cristã a toda a população. Mas com poucos vínculos
eclesiais, e com uma formulação teórica muito precária.
Assim, o Brasil resultou num
povo católico, mas sem garantias institucionais de manutenção da identidade
eclesial. Pela força das circunstâncias,
a fé caminhava sem o amparo da Igreja, e sua transmissão era feita em
decorrência de práticas religiosas com pouca consistência teórica, e quase
nenhuma vinculação eclesial.
A fé cristã tinha precedência diante da
estrutura eclesial, o que está de acordo com a práxis de Cristo, que ensinou
aos apóstolos que deviam tolerar se encontravam alguém invocando o nome do
Mestre, sem ser seu discípulo. “Não o impeçais... pois se alguém não está
contra vós, está a vosso favor”.
O povo se acostumou a
prescindir da Igreja para crer em Deus, o que em princípio é fato positivo, que
mostra a força de convencimento que a fé cristã possui.
Agora existe uma “investida
eclesial”, que precisa ser bem discernida.
Da parte da Igreja Católica,
enquanto se alardeiam perdas significativas em número de fiéis, ela
providenciou uma consolidação formidável de sua estrutura, sobretudo pela
implantação de centenas de Dioceses em todo o território nacional.
Concomitante com o crescimento
da estruturação básica da Igreja Católica, o povo cristão brasileiro vem sendo solicitado
com muita insistência por inúmeros apelos de pertença eclesial, das mais
diversas formas e procedências.
Dada a fragilidade histórica
dos laços que unem a expressão de fé com a vinculação eclesial, é mais do que
compreensível que estes apelos de pertença eclesial encontrem acolhida em
muitos cristãos, que nunca fizeram muita questão de vincular sua fé cristã com
sua identidade eclesial.
O problema de fundo é saber em
que resulta esta exasperada disputa por adesões eclesiais. Para que não
aconteça o que Cristo advertiu aos fariseus, que eram capazes de ir até o fim
do mundo para tornar alguém discípulo deles, mas a custo de ficar pior do que
era antes.
A fé é um dom precioso, que Deus
concede livremente a quem ele quer. A Igreja faz sentido, não enquanto fatura
benefícios da fé do povo, mas enquanto ajuda o povo a fortalecer e purificar a
própria fé. Com esta intenção se
justifica a estruturação eclesial da fé cristã.
O serviço eclesial não pode se
transformar em disputa de concorrência, mas em convergência de esforços. A
Igreja está a serviço da fé, e não a fé a serviço da Igreja. É sob este prisma que precisa ser analisado o
panorama eclesial no Brasil. Como Jesus advertiu os apóstolos, a pregação do
seu nome não pode se transformar em combate entre facções eclesiais.
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