SOB O SIGNO DE BENTO
D.
Demétrio Valentini
A semana que termina foi bem servida de
datas simbólicas.
No início da semana, dia 09, os paulistas
recordaram os 80 anos da Revolução Constitucionalista de 1932. Este episódio contribui para fortalecer a
identidade deste Estado, tão diverso na procedência de sua população.
A mesma data, 09 de julho, abriga a
celebração de Santa Paulina, a “Madre Paulina”, primeira santa canonizada que
viveu no Brasil Acabou ficando bem esta coincidência de celebrações, até porque
a Santa honra o Estado com seu nome e com o testemunho de vida que aqui ela
deixou.
No final da semana, o dia 14 de julho
continua evocando os tempos da revolução francesa, episódio maior das grandes
transformações políticas ocorridas na Europa nos últimos séculos.
E no meio da semana, dia 11 de julho, a
memória de São Bento, padroeiro da Europa, como o Papa Paulo VI fez questão de
estabelecer.
Pois bem, a soma destas circunstâncias nos
convida a pensar na Europa, e a nos perguntar o que está acontecendo com o
“velho continente”. Ele passa, sem dúvida, por um momento de crise. Os sintomas
são diversos. Mas aquele que logo levanta inquietações, por suas implicações
práticas, é a crise econômica, que se manifesta com mais força em alguns
países, mas que se tornou preocupação de todos eles.
Na
verdade, a crise da Europa é mais profunda. Suas raízes são de ordem cultural.
Depois de tantas transformações sofridas nos últimos séculos, a Europa tem
agora dificuldade de se entender a si mesma. Está em busca de uma nova
identidade, que não é fácil de emergir, em cima de tantos destroços do passado
a absorver, e tantos valores novos a assimilar.
A “União Européia” é a tentativa mais
abrangente de construção de uma nova Europa, que corresponda às aspirações de
suas diferentes nações, e à expectativa do mundo, que se habituou a ter na
Europa uma referência indispensável para a orquestração da ordem global.
A dificuldade em assumir uma nova
identidade, que corresponda a tantas e tão diversas aspirações, se manifesta na
obstinação em não admitir as “raízes cristãs” da cultura européia. Na
elaboração da “constituição” destinada a servir de base para a consolidação da
União Européia, não se quis admitir estas “raízes cristãs” da Europa.
Quem vive este drama, de buscar uma nova
identidade européia, integradora dos grandes valores que precisariam ser
reelaborados, é o atual Papa Bento XVI. Ele poderia ser eleito o europeu número
um, dentre todos os habitantes do continente. Nasceu no coração da Europa. Se
fôssemos medir o continente com um compasso, sua ponta iria cair na cidade onde
nasceu Joseph Ratzinger. E ainda por cima, eleito papa, ele escolheu o nome de
Bento, o mesmo nome do Padroeiro da Europa.
Não existe ninguém mais “europeu” do que o Papa Bento XVI.
Pois bem, Bento XVI e São Bento são os dois
personagens que melhor nos ajudam a compreender a Europa. No tempo de São
Bento, nas proximidades do ano 500 de nossa era, a Europa estava se
esfacelando, com o declínio do império romano. Foi então que apareceu São
Bento, fundador dos monges no ocidente. Ele lançou os fundamentos da nova
Europa. Soube impregnar de valores cristãos a vida cotidiana das populações,
com seu lema prático e eficaz: “ora et labora”, síntese integradora de valores
da fé e do trabalho humano, roteiro de vida que iria possibilitar a
consolidação da cultura que plasmou a Europa ao longo de séculos.
Agora esta cultura está em crise
profunda. Como nos tempos de São Bento, é preciso refundar a Europa. É o anseio
que Bento XVI vem enfatizando com insistência crescente.
No tempo de São Bento, o esfacelamento
do império romano facilitou sua obra de reconstrução da Europa. Para refazer
esta façanha, a Europa precisa agora admitir a falência de muitos equívocos que
levaram ao impasse atual. E reconhecer que os valores da fé não contradizem,
nem prescindem, dos valores de ordem política e social. É uma nova síntese que
precisa ser elaborada. Sem preconceitos
e sem ilusões.
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