Informações da Diocese (29.04.12)
CONSCIÊNCIA DE NAÇÃO
D. Demétrio Valentini
Olhar os
bispos do Brasil reunidos, é enxergar melhor o Brasil. Sobretudo se nos damos
conta da realidade onde cada um vive, cumprindo a missão de sinalizar a
presença da Igreja Católica.
Olhando nossas
fronteiras, em sua vasta extensão continental, muitas foram definidas pela ação
da Igreja. A fisionomia do mapa do Brasil tem tudo a ver com a Igreja Católica.
Em boa parte, foi a Igreja Católica, por sua presença, que definiu o território
nacional.
Quando, por
exemplo, no litígio entre a Inglaterra e o Brasil, a propósito da Guiana, o
critério adotado era ver em que língua as pessoas tinham sido batizadas. Como
sempre muito esperta, a Inglaterra promoveu uma campanha de batismos, para as
pessoas se chamarem JOHN, e não João. Pois os JOHNS indicariam que o território
seria inglês!
Muitos ainda
hoje perguntam pelo prodígio deste vasto território ter sido unificado debaixo
de uma mesma bandeira, quando os territórios de domínio espanhol ficaram tão
retalhados. Em nosso país, sem dúvida, o princípio unificador foi a língua
portuguesa. Mas não só. Teve influência decisiva a universalidade da mesma fé
católica.
Sobretudo os
bispos da Amazônia ainda carregam hoje em dia o peso de sustentar este símbolo
da nacionalidade brasileira. Algumas
realidades escapam à compreensão da maioria dos brasileiros. Ainda ignoramos o
que significa, na prática, aquele imenso território. A reunião anual dos bispos
continua sendo uma boa oportunidade para trazer à consciência de todos a
complexa realidade da Amazônia, que ainda não foi suficientemente assimilada
pela consciência da cidadania do nosso país.
Algumas
situações surpreendem. Conversando com os dois bispos do Estado do Acre, da Diocese
de Rio Branco e da Diocese de Cruzeiro do Sul, já nas proximidades do Peru,
surpreende saber que todo o acesso rodoviário ao Acre depende de uma balsa, para
atravessar o rio Madeira. A travessia, além de cara, é geralmente muito
demorada, precisando às vezes aguardar horas a fio para conseguir vaga. E o
Brasil continua incentivando a construção da “transcontinental”, que uniria o
Peru ao Brasil atravessando todo o território do Acre. Do lado do Peru a rodovia está asfaltada,
pronta e bonita. No Brasil, além do terreno arenoso, dificultando a
consolidação do leito da rodovia, o trajeto ainda por cima depende de uma balsa!
Outras
surpresas a gente descobre, perguntando pelo tamanho do território de cada
Diocese.
Sob este ponto
de vista, a mais impressionante é a Prelazia do Xingu, onde há trinta anos está
D.Erwin, sustentando sua heró
ica batalha em defesa dos índios e dos seus
territórios.
Pois bem, sua
Prelazia cobre um território de 368 mil quilômetros quadrados, com uma
população aproximada de 600 mil habitantes. A Suíça tem apenas 41 mil
quilômetros quadros. Fazendo umas contas aproximadas, dá para dizer que o
território da Prelazia do Xingu é dez vezes maior que toda a Suíça! Dá para
imaginar como D. Erwin consegue visitar as 900 pequenas comunidades aninhadas
nas beiras dos rios...
Outro exemplo
comovente é a Diocese de São Gabriel da Cachoeira, desenhada pelo Rio Negro,
começando nos confins do Brasil com a Colômbia e a Venezuela. Seu território é
de 293 mil quilômetros quadrados. Comparando, de novo, com a Suíça, temos
poucas diferenças a fazer. Com a peculiaridade de que a população daquela
Diocese, de cem mil habitantes, 95 por cento são indígenas, de 23 etnias
diferentes!
E assim seria
interessante conferir os dados concretos de cada diocese da Amazônia, para
constatarmos como pouco ainda sabemos da complexa realidade que ela traz para o
interior da nacionalidade brasileira.
Olhando os
bispos reunidos, dá para ler outras realidades, muito interessantes e
significativas. Uma delas, por exemplo: a Igreja do Brasil conta com mais de
quatrocentos bispos, incluindo os aposentados. Pois bem, desses todos, mais de
cem não nasceram no Brasil. Temos aí outro dado muito significativo, e que nos
leva a compreender melhor as dimensões constitutivas de nossa nacionalidade.
Somos um povo com vocação de abertura para o mundo. Temos a vocação de integrar os que aqui
chegam, das mais diversas procedências.
E os bispos “estrangeiros” nos dão, com certeza, um bonito exemplo de
cidadania, vivendo sua identificação com a nacionalidade brasileira. Eles
abraçaram de tal modo a realidade brasileira, demonstrando mais amor pelo
Brasil que muitos brasileiros.
Uma assembleia
de bispos é também uma aula de geografia, de história, e de nacionalidade
brasileira.